COMPETÊNCIA

Como a inteligência emocional pode ajudar na tomada de decisão?

Thaís Gameiro, neurocientista e sócia da Nêmesis, fala sobre como funcionam as reações de pessoas com inteligência emocional frente às adversidades

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Mão feminina mexendo peça em tabuleiro de xadrez, simulando tomada de decisão e uso da inteligência emocional
Vale darmos mais atenção ao desenvolvimento da inteligência emocional dentro das empresas (Foto: Freepik)

Hoje, mais do que nunca sabemos a importância da inteligência emocional para o sucesso de pessoas e organizações. Tal habilidade tem sido mapeada como foco principal de desenvolvimento, visto que os profissionais do futuro (que na verdade já é presente) irão necessitar cada vez mais dessa importante competência. Mas, por quê? Para entendermos a razão pela qual a inteligência emocional vem ganhando cada vez mais atenção, precisamos refletir a respeito de como o futuro do trabalho vem se desenhando.

Primeiro, temos o rápido avanço tecnológico, que certamente causará a substituição de inúmeros postos de trabalho, especialmente aqueles mais repetitivos, padronizáveis e operacionais. Dados da McKinsey trazem uma estimativa de que até 2030 os robôs causarão a substituição de 400 a 800 milhões de empregos. Com isso, a grande pergunta que paira no ar é: qual será o papel dos humanos nesse novo mercado? Habilidades de comunicação, relacionamento interpessoal, empatia, criatividade e adaptabilidade para solucionar questões ainda desconhecidas serão certamente competências muito valorizadas nos profissionais.

O segundo ponto a ser adicionado nessa reflexão é que a nossa relação com o trabalho vem mudando. As expectativas, especialmente dos mais jovens, em relação à carreira, passam por aspectos como propósito, qualidade de vida, crescimento e desenvolvimento profissional contínuo e um ambiente de trabalho flexível, menos burocrático e mais rápido e eficiente, que acompanhe as mudanças tecnológicas. Os líderes precisam ser facilitadores, capazes de engajar suas equipes, motivá-las, a fim de obter os melhores resultados a partir de uma valorização das pessoas. Aqui, mais uma vez, a inteligência emocional já é e será cada vez mais essencial!

Todo esse cenário já seria suficiente para justificar a necessidade da inteligência emocional, mas além disso, diversas evidências vêm mostrando que essa habilidade nos torna mais assertivos em nossa tomada de decisão. E como tomar decisões em ambientes desconhecidos e incertos será cada vez mais comum no mundo do trabalho (e da vida como um todo), vale darmos mais atenção ao desenvolvimento desta competência dentro das empresas, em nossas equipes e claro, em nós mesmos.

Estudo sobre inteligência emocional

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia trouxe uma contribuição importante para ajudar a compreender o papel da inteligência emocional na nossa habilidade de tomar decisões, à luz de aprendizados da Neurociência.

Os pesquisadores utilizaram um teste comportamental bastante conhecido, chamado de Iowa Gambling Task, cujo principal objetivo é avaliar como os indivíduos reagem emocionalmente quando precisam tomar decisões que envolvem risco, nesse caso, de perder quantias consideráveis de dinheiro. Enquanto realizavam o teste, os participantes tinham sua resposta de condutância da pele mensurada, a partir de eletrodos posicionados nos seus dedos. Essa resposta é caracterizada por um aumento do suor na palma das mãos, que ocorre naturalmente quando nos encontramos de frente a uma situação de incerteza ou ansiedade. Sabe aquele friozinho na barriga ou desconforto momentâneo que sentimos quando temos que tomar uma decisão importante, mas não temos muito controle do desfecho? É disso que estamos falando aqui.

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Resultados

Os resultados mostraram que aqueles indivíduos com alta inteligência emocional adotavam comportamentos mais adequados ao longo do teste, ajustando seu padrão de tomada de decisão de maneira mais eficiente, evitando a perda de dinheiro. Em contrapartida, os participantes com baixa inteligência emocional escolhiam com maior frequência as opções de maior risco ao longo da tarefa. Os autores do estudo acreditam que essa diferença no padrão de comportamento está relacionada com uma maior dificuldade de interpretação das respostas emocionais e fisiológicas por parte dos indivíduos com baixa inteligência emocional.

Ou seja, é possível que os indivíduos com alta inteligência emocional tenham uma melhor habilidade em reconhecer suas respostas emocionais, identificando os sentimentos de incerteza e ansiedade (correlacionados com a resposta de condutância da pele) como sinais de perigo, evitando as escolhas arriscadas que despertam tais sensações. Por outro lado, os indivíduos com baixa inteligência emocional tenderiam a identificar essas respostas emocionais como uma forma de excitação ou euforia, sendo interpretado como um sinal positivo, estimulando o indivíduo a repetir as escolhas mais arriscadas.

Um dos principais pilares da inteligência emocional é o autoconhecimento, isto é, nossa habilidade de reconhecer e interpretar de maneira adequada nossas próprias emoções. Para que o processo de tomada de decisão seja eficiente e para que possamos identificar de forma adequada as pistas vindas do nosso inconsciente, é necessário ter bem desenvolvida nossa inteligência emocional. O estudo traz uma importante contribuição para o entendimento das bases fisiológicas por trás da inteligência emocional, ajudando a entender o seu papel em processos importantes do nosso dia a dia.

Thaís Gameiro
Neurocientista e sócia da Nêmesis
Especial para O POVO

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