Sabe aqueles momentos decisivos de nossa vida, quando precisamos ter uma performance impecável? Por exemplo: uma apresentação importante no trabalho, aquela reunião esperada há meses, o evento da empresa que você estava se preparando desde o ano passado, e tantas outras situações em nossas vidas profissionais em que nos dedicamos, nos preparamos, mas no momento chave sentimos que falhamos, pela alta pressão?
Se você é como eu e a maioria das pessoas, certamente já viveu uma situação como essa. São cheias de memórias intensas, frustrantes, podem até mesmo gerar alguns traumas. Por outro lado, são repletas de aprendizados valiosos, que frequentemente não aproveitamos. Optamos muitas vezes por evitar pensar na situação, culpamos o contexto ou as outras pessoas envolvidas. Mas, o que de fato acontece conosco nesses momentos de alta pressão e cobrança (interna ou externa), que dificulta termos uma boa performance? Para responder essa pergunta, precisamos entender um pouco mais sobre as bases do nosso comportamento.
Grande parte de nossas atitudes e decisões (dentro e fora do trabalho) são regidas por processos cerebrais automáticos. O chamado sistema 1 opera a nível inconsciente, tem uma elevada velocidade de resposta, consome pouca energia e, por isso, é o primeiro sistema a ser acionado para resolver a maior parte de nossas demandas diárias. Apesar de parecer contra intuitivo, esses processos automáticos também estão presentes quando estamos desempenhando atividades corriqueiras do nosso trabalho, principalmente aquelas nas quais já adquirimos uma certa experiência. É nesse momento que sentimos que não há um grande esforço para realizar a tarefa, ela simplesmente flui de forma mais natural e não precisamos prestar atenção em cada detalhe do que estamos fazendo.
Acontece que quando estamos sob pressão, esse cenário muda significativamente. O estresse provocado pelo contexto de alta cobrança por resultados positivos gera uma hiperativação de uma área do cérebro chamada Córtex Pré-frontal. Essa região é fundamental para o bom desempenho de nossas habilidades cognitivas, como atenção, memória, resolução de problemas, planejamento e tomada de decisão. Nesse cenário de “tudo ou nada”, a região assume o controle de nosso comportamento e, muitas vezes, vivemos aquela sensação de “pensar demais”. Prestamos atenção em cada detalhe, avaliamos milimetricamente o impacto de cada palavra, antecipamos múltiplos cenários, e como resultado, sobrecarregamos o nosso sistema, dificultando a nossa performance.
Uma apresentação ou reunião que normalmente seria conduzida de maneira fácil e eficiente, nesse contexto parece complexa e muito mais difícil de ser superada. Perdemos a automaticidade do sistema 1, em troca da maior precisão do sistema 2, que por outro lado fica sobrecarregado com o excesso de informações a serem levadas em consideração. Como lidar com esse tipo de situação? Aqui vão três dicas importantes:
1. Desenvolva o autocontrole
Além de ser uma das bases da inteligência emocional, estudos mostram que o autocontrole é um importante preditor de sucesso, pois permite uma melhor avaliação das situações vivenciadas, evitando atitudes impulsivas. Quando estamos sob estresse intenso, naturalmente diminuímos nossa capacidade de autocontrole, devido a mudanças importantes que ocorrem nas conexões entre as áreas cerebrais associadas a essa habilidade e aquelas envolvidas no processamento das emoções. Por isso, é muito importante buscar ferramentas e práticas que contribuam para o seu desenvolvimento, permitindo um melhor desempenho em momentos de pressão que certamente irão ocorrer.
2. Prepare-se de verdade para o grande dia
Para usufruirmos de maneira eficiente da automaticidade do sistema 1, é importante estarmos realmente preparados e capacitados para o grande dia, ou seja, praticar é essencial! Pense em um atleta de alta performance. Ele só terá chance de realizar uma grande competição se realmente tiver treinado e souber executar todos os movimentos durante sua atuação. Da mesma forma, só conseguimos conduzir bem uma negociação ou apresentação se realmente conhecermos os argumentos, resultados e informações a serem mostradas. Por esse motivo, dedique-se a aprender de verdade o que precisa para realizar o seu trabalho de maneira eficiente no momento chave.
3. NÃO PENSE DEMAIS no momento decisivo!
Por último, se você está preparado emocionalmente e tecnicamente, deixe o seu cérebro fazer o trabalho. Evite pensar demais no momento chave, não caia no erro de querer rever tudo 5 minutos antes, não comece a pensar no que mais você deveria ter feito. Esse é exatamente o caminho sem volta que irá sobrecarregar o seu Córtex Pré-frontal, fazendo com que o mesmo seja consumido pelos impactos negativos do estresse. Por isso, procure ter alguns minutos de relaxamento logo antes do momento decisivo, distraia-se com alguma coisa sem importância e tenha confiança no trabalho prévio que já foi desempenhado!
Thaís Gameiro
Neurocientista sócia-fundadora da Nêmesis
Especial para O POVO
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